quarta-feira, 5 de outubro de 2011

free fallin'


Chegou em casa carregando uma mistura de sentimentos dentro da bolsa. E de uma sacola. 

Adorava chegar com tudo caindo, entre procurar a chave e atender o telefone, entre abrir a porta e olhar as flores.

Pequena, a sacola. Menor ainda, ela. É mágica a quantidade de vida que cabe dentro de uma pessoa que se dispõe a ser plenamente feliz. O tamanho não importa, as certezas ficaram dentro do ônibus que veio pelo deserto iluminado da estrada. Ela via, da sua sacada, os caminhos se cruzando naquele horizonte. 

E via mesmo o horizonte? E o horizonte que via era mesmo o limite? 

Quis pegar seu coração e levá-lo para casa. Na mesma bolsa. 

Nada.
Voltou.

Deixou seu coração pela rua. 

É como se tivesse um encontro marcado com cada novo dia. Sim, é demais. Exagerado. Irritante, disseram uma vez.

- Você é exagerada. Tudo sempre é muito.

Voltou. E viveu de novo.

Cada vez que saía, encontrava com o coração que havia deixado num tapete pegando sol na janela ou naquela limonada que demorou tanto para chegar. Tem quem diga que parecia viver num festival de cinema, onde diariamente inventava seus roteiros. 

- É. Sou exagerada.

(Disse para si, baixinho enquanto esperava o elevador chegar com mais uma possibilidade de descer para o mundo. Para depois subir ajudando a carregar suas descobertas.)

Viveu de novo. 

Uma nova sacola de inspirações. Uma palavra ou dez volumes de literatura. Uma nota ou uma coleção de discos. Um olhar cruzado ou uma noite de amor. O tamanho das coisas não importa quando a gente toca de verdade o valor que todas elas têm. 

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