A independência da maquiagem e o barulho do salto refogam a alma feminina em cheiro doce. É, dá pra fazer quase tudo sozinha.
Na primeira noite em que eu dormi na casa nova, pensava nas lâmpadas e nos armários. Ficar sozinha não me assusta. Mas imagina ficar no escuro. Ou empurrar uma estante com todo o peso dos livros nas mãos. Mudar a ordem dos poemas, tirar tudo para colocar de novo, talvez até atirar alguns textos no chão.
Eu poderia suportar um filme triste num sofá eterno. Mas as lâmpadas sempre foram clichês dos homens. Acho que mulher nasce com o enigma das luzes em casa. "Quando queimarem umas três, eu troco", pensava. Inútil. Muitas delas já vieram queimadas.
Fui colocando a mobília no lugar. No lugar que dava, que eu conseguia levar. Talvez o lugar certo seja o que a gente consegue chegar. Fui lá e comprei as lâmpadas. Muitas delas, uma sacola.
A menina do caixa perguntou se eu havia testado. Pensando "a gente testa lâmpadas?", eu respondi "sim, claro".
Tudo resolvido, exceto uma delas que fica bem em cima de mim no corredor e vive dando mau contato. Nem sei se ela tá queimada ou não, cada dia ela inventa uma coisa.
Entre as coisas queimadas e as coisas que a gente demora para encontrar o lugar, tudo estava na calma do meu parquet encerado brilhando no escuro.
É assim, a gente acha que dá pra fazer tudo sozinha. E dá. Mas mulher que mora sozinha vai sempre correr o risco de sair para uma festa com o zíper do vestido aberto.
A-MEI.
ResponderExcluirisso aqui é muito bonito : "independência da maquiagem e o barulho do salto refogam a alma feminina em cheiro doce.".mas gostei do texto inteiro.beijo e saudade de POA
ResponderExcluirxico sa