quarta-feira, 21 de setembro de 2011

não quero carona.


Cama, guarda-roupa, pratos e copos. As comidas na geladeira. As canecas da coleção. Os livros, quietos, agora em desordem. Se o almoço era em casa, agora é pelas quatro da tarde. Posição do shampoo na prateleira do banho, estoque de sabonetes nos armários do banheiro. As maquiagens na gaveta das meias, os casacos de inverno no meio do verão. Cartões nas paredes, rabiscos que não servem mais arquivados no lixo. Um par de novos olhos para ver o mesmo filme, unhas sem esmalte, talvez até um salto alto ao meio dia. Cabelos presos como nunca. A padaria da outra esquina, o cinema do outro shopping. Pedir a sobremesa antes. Aliás, nem comer a sobremesa. Deitar na vertical do colchão. Aliás, de novo. Deitar no meio, bem no meio do quarto. Roupa de festa para ficar em casa, roupa de dormir para não esquecer o cheiro. Ferver água na panela, bisbilhotar o amor alheio na porta do prédio ao lado. Caminhar à noite, visitar o estacionamento e decidir que é isso. 

Que tem dias na vida em que a gente tem que fazer tudo, tudo ao contrário.  Porque só assim a gente vê acontecer o que a probabilidade nos contou que não aconteceria. 

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