Tem alguma coisa na arte que me deixa desconfortável. Alguma coisa que quase insulta a literatura. Sim, é meu desabafo. Fazia tempo que eu pensava nisso. Talvez agora tenha criado alguma teoria maluca que pode ser compartilhada. Não concorde comigo, certo? Eu não quero o seu sim. Nem o seu não. Só quero um questionamento.
Para mim, desde que acostumada a ler e adorar escritores, escrever é um caminho cujo sentido é encontrar a palavra certa. A expressão certa. Buscar até o som mais bonito das palavras. A harmonia. Talvez por isso muitos poemas virem música. Escrever é a busca da harmonia, da construção do que pretende beirar a perfeição.
E a arte? O que é a arte? Talvez esteja me referindo a obras de arte moderninhas, cheias de dúvidas e coisas sem sentido. Talvez a arte clássica, bonita e bem feita que a gente estudou no Renascimento, por exemplo, não se enquadre aqui (aquela, para mim, também é busca do perfeito).
Contraponto, né.
Qualquer coisa de cabeça para baixo no meio de um salão preto, cor de rosa ou amarelo é arte. Qualquer foto desfocada, sem sentido e sem conexão é arte. Tudo vira obra de arte. Um ponto preto num quadro branco, vários pontos pretos em vários quadros brancos, vários quadros brancos em vários pontos pretos. É uma coisa que as crianças, na sua sábia ingenuidade, olham e pensam: tá, mas isso eu também poderia ter feito. É. É essa arte que me irrita.
Porque os poemas mais belos, as narrativas mais suadas, os contos mais suspensos no fôlego não poderiam ter sido feitos por qualquer um. Em qualquer lugar do tempo. Não. Eles são únicos. Autênticos em todos os aspectos.
A arte a literatura não estão de mal, brigando ou coisa parecida. Estou apenas refletindo sobre seus papeis. Sobre as suas influências. Sobre o que cada uma é e significa, pelo menos para mim.
É como se a arte fosse um devaneio em busca de qualquer coisa. E a literatura fosse um desejo de encontrar a coisa certa, perdida em meio aos devaneios. A gente procura sentido na arte, olha de um lado, olha do outro, se sente meio burro porque não entendeu. Enquanto isso, as páginas mais amarelas dos livros mais usados procuram por nós, tentando entregar todo sentido que estávamos buscando. Talvez no lugar errado.
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