terça-feira, 26 de abril de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

ministério da sobrevivência adverte.


mentira, falsidade, fingimento, ilusão.
falta de caráter, besteiras, bobagens.
incoerência, egoísmo, traição.

em qualquer um dos casos acima, 
tenha a certeza de que fechou 
todas as portas e janelas
que tirou a água das flores
assassinou todas as possibilidades 
de reprodução desses pensamentos

e saiu para ir embora
e voltar só na outra estação.

domingo, 24 de abril de 2011

encontrei.

se a gente ficar pensando,
pensando,
pensando...

vai ter muitos passados
e nenhum futuro.

(o segredo dos seus olhos)

chega de saudade.



viva a bossa nova, que está sempre por perto quando a gente precisa de companhia pra chorar.

domingo estranho.

ouvindo chocolate e comendo música.
"you look so pretty sleeping next to me."

andei pensando.


e acho que descobri porque às vezes parece que Deus não existe. na verdade, ele está ocupado com esse pessoal todo solicitando milagres durante os jogos de futebol. 

sábado, 23 de abril de 2011

fragmentos.


virando arte.

O vestibular da fossa, por F. Carpinejar

(frações de cores comuns)

é reconfortante quando um autor escreve o que a gente precisa.
poupa trabalho.

***

Superar uma dor de amor é o equivalente a estudar para o vestibular. Tranca-se no quarto, são recusados convites para sair e se divertir, a história pessoal é revisada, sublinhada e decorada à exaustão. Não mais o esporte, não mais as festas, não mais os bares. Os únicos amigos preservados são os travesseiros.

Fala-se pouco, come-se devagar, experimenta-se um emagrecimento involuntário que dá mais certo que uma dieta consciente. Aquela sonhada perda de sete quilos realmente acontece, na hora e no jeito errados. Não festejamos, não percebemos, não alardeamos a forma física; a tristeza encabula o corpo. Somos um par de olheiras e uma boca confusa. As reticências do período tanto podem ser suspiros como gemidos.

A única missão que resta é estudar, não para seguir uma profissão. Estudar para seguir a própria vida. Estudar para se manter em pé ou definitivamente cair. Na dor do amor, o desejo é chegar ao fundo de si, mas o fundo de si está na pessoa que deixou de nos amar. E nunca se chega ao fim. O fim não está mais com a gente. Foi junto com quem traiu a fidelidade em que acreditávamos.

A dor do amor oferece igual preparação de uma prova difícil. Uma prova que não importa a doação, o resultado é conhecido. O que se queria já se perdeu. Um vestibular que significará esforço e não celebração. Um vestibular onde se é desclassificado antes da inscrição.

Não cumprimos a rotina, mal e forçosamente ficamos de pé. Os pijamas pedem na Justiça a guarda da pele. É um luto sem enterro. Um luto sem cadáver. Um luto sem missa de sétimo dia. Um luto sem familiares se aproximando e tentando consolar. Um luto sem pêsames e garantia social. Um luto obrigado a trabalhar no dia seguinte. Um luto que não se explica. Um luto que não merece nem anúncio de jornal para avisar que acabou. Um luto em que o sofredor poderá se encontrar com seu sofrimento em carne e osso na próxima esquina. 

Acorda-se com a sensação de pesadelo, dorme-se com a sensação de pesadelo. Fase de transição, em que se confia sinceramente que nada será melhor do que antes. Quem tinha humor fica cínico. Chora-se, no princípio, com força, depois o choro é um hábito, perde a concentração e vira um resmungo intermitente. Não se faz outra coisa senão remoer o tempo, repisar fotografias, vídeos, cartas. Reler e revisar o que foi esquecido no Ensino Fundamental e Médio. São meses de exílio, sacrifício, a mostrar que se é capaz de sofrer a sério por alguém e abdicar do que mais se gostava.

A fossa do amor não é uma encenação. Ao passar por ela, termina a confiança irrestrita, a esperança ingênua. As pessoas que sofreram esse descompasso são reconhecíveis de longe. Não se alegrarão de todo. Uma saudade vai retirar a velocidade dos ouvidos. Não se abrirão de novo como uma vitória-régia. Têm uma sutileza que as diferenciam dos demais, o tolhimento do abandono. E poderão, no futuro, amar melhor porque não estarão mais sozinhas. Estarão sempre conversando e consultando sua dor. 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Páscoa, por Verissimo

O melhor cronista do Brasil, eu acho.
Talvez agora empatado com o Carpinejar, eu tenho certeza.

***

- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é ... bem .. é uma festa religiosa!
- Igual Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta, vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos .. Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo? 
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas quando você for no catecismo a professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era, era melhor, ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?
- Isso eu sei: na sexta-feira santa.
- Que dia e que mês?
- ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.
- Um dia depois.
- Não, três dias.
- Então morreu na quarta-feira. 
- Não, morreu na sexta-feira santa ....... ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- É, boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai. Se for um tal de Rogério diz que eu saí.
- Alô, quem fala?
- Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?
- Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

- Coitada!
- Coitada de quem? - Da sua professora de catecismo!!!

Viajando para acreditar.


Eu acredito no amor, nos edredons bem fofos e em trabalhar de madrugada. Já acreditei mais em café na cama e em paixão que nunca morre. Acredito nos espressos mais fortes, e apenas em doces feitos com chocolate. Acredito na palavra etéreo, nos LPs dos Beatles, nas cartas que a gente nunca manda e nas fotografias.

Eu acredito em filmes tipo A Vida é Bela, acredito nas poesias mais bregas, nos horários mais malucos pra dormir e nos caderninhos coloridos. Acredito no samba, desconfio da bossa nova. É amada demais, mas vive triste por ser abandonada. Sofre de paradoxo.

Eu acredito em bilhetinhos de amor, acredito em carregar sempre cartões de visita na bolsa e desde a semana passada acredito em comida mexicana. Acredito nas casinhas coloridas da Cidade Baixa, que devem ter um corredor enorme. Se alguém chamasse para almoçar, o grito chegaria só na hora do café. E ainda estaria frio. Tá, mas eu não acredito em café frio.

Eu acredito que música vicia, que sempre vai acontecer a coisa certa com a pessoa errada e que nunca dá pra terminar duas coisas nessa vida: borracha e caneta BIC. O resto sempre tem fim. 

Eu acredito na vontade de viver dos livros, nas feiras de frutas e verduras dos bairros e nos croissants de qualquer padaria francesa. Acredito que jornal só perde a validade quando a gente lê. Parece que não interessa tanto quando uma coisa aconteceu, ela vira notícia quando a gente fica sabendo.

Eu acredito em ir ao cinema sozinha. Não acredito em reunião demorada, nem em loteria. Super acredito em frases de amor, de efeito, de impacto, ou qualquer coisa dessas que emociona. Ou vai me dizer que você também não adora um pouquinho de motivação em poucos caracteres. 

Eu acredito em dormir até o meio-dia no meio da semana e em trabalhar no domingo, acredito que vontade de fazer as coisas não tem data nem horário, e que só é feliz quem pensa exatamente assim como eu. E eu não acredito em quem disser o contrário. E muito menos acredito que sou teimosa, chata ou coisa assim. 

Eu acredito que quem mais quer é quem mais foge, e que a gente sempre tem uma ótima desculpa para não fazer o que mais precisa. E agente ainda acha que acredita nisso.

Eu acredito que tem muita coisa pra se acreditar. A gente vai mudando a roupa das ideias. E sempre tem uma coisa nova sentada esperando julgamento: a gente acredita ou não? Uma pessoa, uma nova aula na academia, um novo restaurante, qualquer coisa. Pode ser até aquele vizinho novo que você já acredita - e juraria - que é um lindo. 

E aí mora todo encanto da viagem: no sabor de acreditar. 

terça-feira, 19 de abril de 2011

fragmentos (2).


(...)

dormindo e esquecendo a tristeza, acordando e repondo a esperança, aqueles que resistem e talvez envelheçam sem completar seus sonhos, que respeitam as pequenas alegrias porque podem ser as únicas, que não decidiram se diminuem a expectativa para sair da solidão ou aumentam as exigências para justificá-la.


Como eu amo quem se importa em amar, apesar de tudo. 
Apesar de tudo.

***

leia na íntegra aqui.

liberdade.


a mesma música
e um novo movimento.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

fragmentos.


porque como dizem por aí
a gente escreve pra lembrar

quem deixa tudo para a vida
não entendeu nada da literatura.

domingo, 10 de abril de 2011

saudades de mim.

"deve ser bom morar na tua pele."

é, quando eu não esqueço as chaves de casa.
ou fico morrendo de saudades de mim,
porque acabei me esquecendo em você.

O massacre chegou antes do jantar.



Virei vegetariana porque respondia a tudo com o estômago. Qualquer coisa que eu gostasse demais ou de menos me dava dor de barriga. Aí tinha que me manter leve para qualquer um desses casos. Foi na mesma época que eu queria ter o cabelo loiro em alguns pedaços dos fios.

- Filha, nada disso de fazer luzes.

- Mas não são luzes. São umas pontas e uns lados.

Ela nunca entendia. Nem as luzes, nem o estômago. Sempre tem uma mãe achando que tudo que a gente quer fazer é fase.

Parei de comer carne. Todo mundo chegava perto achando que eu ia desmaiar, desistir ou fugir para um retiro meio hippie. Apostavam no que aconteceria primeiro. Os primos olhavam com a cara torta, encontrando uma explicação em seguida:

- É que ela é a primeira filha e primeira neta.

O “e” nesse caso era agravante sério. Cochichavam com cara de quem descobriu que não vai ganhar feriadão no trabalho. E eu não tinha ideia de como sair dali.

Quando toda família mima o primeiro filho, aí sim é que ele não consegue fazer mais nada. Fica soterrado pela atenção. E eu ainda precisava ressurgir com minhas justificativas para a nova decisão.

Meu pai já achava que era mais uma coisa que filho começa e não termina, sabe. Tipo querer fazer aula de pintura ou curso de violão.

- Daqui a pouco ela esquece. Ela já quis ser arqueóloga e eu até hoje não entendi o motivo. Deve ser porque gosta de coisa com substantivo diferente.

Alguns frangos negados mais tarde, o pessoal já tinha se acostumado.

Churrascos para mim viraram torturas nervosas. Descobrir um pedaço de presunto numa massa que jurou ser só de queijo era o caos. Pesquisar os pedacinhos de linguiça numa lentilha e não comer mais nada quando os encontrasse doía quilômetros.

- Mas tira a linguiça. Nem ficou gosto.

- Mãe, ferveu junto. Tá ali.

Virei uma chata com um pouco de soja e arroz integral.

Eu teria tendências naturebas, sim, mas a questão mesmo é que eu não gostava de carne. Nenhuma carne, nem meia carne. Fui ajeitando as coisas como podia. Omeletes sempre me salvaram na rua, mas feijão eu só podia comer em casa. Não poderia confiar minha vida a restaurantes que colocavam caldo de carne em tudo. Arriscava até umas batatas fritas para ninguém reparar que deixei de lado todo filé à xadrez na mesa do bar.

Cheguei até aqui intacta. Sobrevivi a todos os projetos de galetos, festerês dos risólis, orgias dos molhos à bolonhesa.

Não esperava o que aconteceria. Nem que ele me convidaria para jantar assim tão depressa, nem que eu iria aceitar, e muito menos que ia me desmascarar antes de conseguir descer as escadas.

Foi por telefone.

- Vamos naquele restaurante de grelhados super simpático que abriu aí perto da tua casa? Te pego às oito.

- Mas...

- Combinado?

- É que eu não como carne.

Eu falei como num confessionário, já esperando minha punição. Qualquer coisa entre ele me achar um saco ou choramingar dizendo que também adora os animais, mas não vive sem carne, poderia acontecer.

Muito pior.

- Ah, mas não tem problema.

- Jura? Por quê?

- Eles têm uma enorme variedade de saladas.

Eu sei que não foi o tom de anúncio comercial o que me incomodou. Ele acabara de me derrotar. Era justo, eu já tinha me escondido durante muito tempo.

- É que eu detesto salada.

O meu fim não estava próximo. Ele recém tinha sido decretado. Qualquer coisa seria perdoada, menos uma vegetariana que não come salada. 


***

Fui para a Oficina de Crônicas do Carpinejar em SP.

Voltei bem mais ácida, com vontade de rir de mim mesma, um amigo a mais e cheia de coisa atrasada pra fazer.

Eu cuido do sol, o George com vários S fica com as azeitonas suicidas.

O blog dele é esse aqui: http://azeitonassuicidas.wordpress.com/
E o twitter: @gdinamite

Ele tem alguns insights nesse texto. E tô adorando escrever com companhia.

me mudei.


a partir de ontem eu sou uma vegetariana sabor quatro queijos.
e muito mais ácida do que eu lembrava.

pecado não lembro do número: a inveja.

(frase de cartier-bresson)

Antes desse, todos os aneis foram levianos. Ficavam perdidos na pobreza do que sobrava. Nem a beleza da simplicidade salvava seus modos de não se prender em minhas mãos. Não suporto o gosto da metade do caminho. A indecisão imóvel na calçada. Não caminha, e sequer fica parada com convicção. Quando fico muito tempo em silêncio, bato todas as portas por dentro. Às vezes tenho alergia das minhas vontades exageradas. É que eu posso até errar o botão do interfone, mas não deixo de tocar. Faço meus dedos contarem as moedas, e aposto até meu último centavo na chuva.

Em tempo: também morro de inveja de quem fala francês.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os espelhos falam devagar.


Toda mulher que passa pelo espelho precisa se olhar. É garantir que está ali, e que a roupa combina. Já me curvei pelas portas dos carros quando a única saída era o retrovisor. 

É mais que conferir se o cabelo ficou bom, tem a ver com bater o ponto na nossa feminilidade. Ajeitar a bolsa, conferir os olhos da maquiagem. Bisbilhotar as pequenas coisas da face. 

Triste é quando alguém abre a porta do elevador no quarto andar. Além de testemunhar o apego pela imagem ao inverso, acaba de nos privar de mais alguns instantes de ficar ali olhando. Eu poderia ter ido sozinha até o térreo. 

Uma vez teimei em pedir para o senhor descer de escada. Eu precisava terminar de conferir a sobrancelha. A metade de seu corpo que foi expulsa tenta ainda entender as mulheres. O resto já desistiu.

É que depois daquela noite, as conversas com os espelhos tinham mudado.

- Eu adoro as tuas sobrancelhas.
- Uma delas é mais alta que a outra. Pareço um monstro.

Ele elogiou a possibilidade de colocar a moldura no lugar. Chegou perto com as mãos. A gente sempre tenta arrumar o outro.

- Pára de olhar. O táxi chegou.

Foi um caminho de volta para casa nenhuma. E o que importava o destino. Fiquei pensando mesmo nas pinças, nas manicures metidas que tentam ajeitar os fios, na tesourinha que às vezes a gente precisa para arrumar um dos lados. É como unha quebrada, não dá pra fazer mais nada na vida antes de consertar.

Eu cuidava bem dos cabelos e das unhas. Adorava os meus pés. Uma vez havia me apaixonado pelas panturrilhas meio magras, mas de pele bem tratada. E adorava ficar dizendo batata da perna. Todas as partes do corpo já foram casos de desprezo ou paixão.

Até então era fácil conviver com esses trajetos de mim aos pouquinhos, cenas que não cabiam a mais ninguém. Mas agora não poderia suportar a sua descoberta: as sobrancelhas eram o único movimento do meu amor. 

quarta-feira, 6 de abril de 2011

e o título é a sobremesa.

cena 1
- tu adora o que tu faz, né.

cena 2
- eu adoro as tuas sobrancelhas.
- uma é mais alta que a outra. pareço um monstro.
- nada, dá vontade de mexer. colocar no lugar.

cena 3
viraram amigos quando o casaco cobriu as pernas dela dentro do táxi.

da preguiça


vivia fazendo tudo ao mesmo tempo
o relógio estragou
ficou em casa o dia inteiro

terça-feira, 5 de abril de 2011

meu confessionário.


eu vim aqui dizer que te amo
tão baixinho
mas tão baixinho
que é pra ver se eu mesma
não me escuto mais


sábado, 2 de abril de 2011

Eu não sei criar títulos.

(Cartier-Bresson)

O sol forte na rua foi pretexto para eu entrar. Sempre encontro. Livrarias e motivos para entrar. Posso procurar livros esgotados na editora. Ou fico só olhando quem procura o quê. Será que alguém percebe os títulos que carrego? As pilhas que folheio na mesa do café?

Dei uma volta na literatura brasileira, passei pelo caixa e olhei aquelas duas meninas. Curiosas, a gente via de longe. O ruído dos recém adolescentes perto dos discos não chegava no mundo que elas estavam. Era quase outra galáxia. 

Acho que elas fazem parte da sociedade de famílias que levam os filhos ao shopping no sábado. Pelo menos essa parte do passeio era meio didática, construtiva, digamos assim. Poderiam ser irmãs, mas a idade era muito parecida. Não eram gêmeas. E também eram cúmplices demais para isso. Adivinho: é a melhor amiga, que a mãe deixou na casa da fulaninha para passar o dia e dormir lá, caso tenha sorte e seja bem comportada. Ok.

Tento conter a vontade de sorrir quando o carinha do caixa pergunta o que está escrito na minha tatuagem. Fingi uma seriedade sobrenatural. Sem conseguir olhar para cima, errando a senha do cartão, eu respondo.

- É que eu não conto para ninguém. 

Todo mundo acha que é árabe. E acha que a mensagem é algo mais sobrenatural que a seriedade ali de cima. E falar seria acabar com isso tudo, porque o que está escrito é mais simples que digitar a senha do cartão. Sem errar, claro. 

Eu prefiro deixar as pessoas pensarem o que querem. Que é o nome do meu ex namorado de sete anos atrás, que eu não consegui apagar dos poros. Ou então uma frase feita. Ou sei lá, homenagem a alguém que morreu. Conforme o contexto, a tatuagem vai mudando a sua linguagem. Um dia desses eu mesma vou ter que me perguntar o que é. Espero que responda. 

Vou em direção à porta. E é nessa hora que as meninas passam por mim. 

As cores que elas vestem misturam-se às capas espalhadas pelo lugar. Elas carregam dezenas de livros que parecem não ter peso nenhum. A mais esperta olha para a outra. E como se fosse um segredo, revela.

- Sabia que se a gente colocar a letra G antes de astronomia, vira gastronomia?

Chego em casa ainda me perguntando onde foi a gente deixou a leveza de tentar entender as palavras.

das xícaras.


fui embora para dormir
de perto e distante
exausta de poesia
cansada dos lençóis tão novos
dormente de alma
sincera de mundo
eterna de tudo

sexta-feira, 1 de abril de 2011

xico sá: eu sobre ele, ele sobre o twitter.

tá, resolvi contar essa historinha.

a gente estava no social media week, eu e a fernanda, minha sócia. não dava para deixar o auditório, quem saísse perdia o lugar para sempre. a gente ficava tanto tempo na mesma cadeira, que ela virava perpétua, tipo estádio de futebol.

e aí entre um debate e outro, dei uma olhada nos meus emails. chegou o melhor de todos: lançamento do curso os sete pecados, com  fabrício carpinejar, na perestroika. prometo que paro de falar nesses dois assuntos (carpinejar + perestroika) por alguns meses, mas agora aguentem aí um pouco. olhei a apresentação do curso, que era incrível até pra quem não conhecesse nenhum dos dois. 

enquanto isso, o debate que ia começar era uma palhaçada nada a ver entre o xico sá e o rafinha bastos. e mais um cara nonsense que eu não lembro o que faz e tentava ser engraçado. resolvi ficar para ver o xico sá. valia a pena. 

e aí chego no último slide da apresentação: master class com xico sá. e ele entra na sala. eu sei que vocês estão tentando imaginar essa cena incrível. é, ela foi incrível mesmo. quase esotérica. roubei essa palavra do texto da sissi, para vocês verem como ela tá me matando mesmo.

voltando ao xico. master class com ele ontem na perestroika, para terminar o curso. foram embora sete aulas, e os pecados ficaram na gente como nunca. rolou uma entrevista no divã, que por sua vez era um sofá branco. foi super divertido. óbvio que pedi um autógrafo no meu livro, tirei foto e coisa e tal. 

e eu resolvi contar essa história, porque perguntei a opinião dele sobre o twitter e esse verdadeiro chabadabadá das redes sociais. ele respondeu, e agora eu encontrei no blog dele mais sobre isso.

****

eu tinha o verissimo e o carpinejar.
chegou o xico sá.

ai, o que eu faço agora.

****

Something is technically wrong

(...)

Meus 140 caracteres de volta ou eu quebro tudo, quem mandou inventar moda para o meu lado. Mais respeito com quem entra tarde na brincadeira.

E assim, com o twitter fora do ar, a roda do cafezinho foi reinventada na firma.
leia aqui. 
@xicosa 

as lâmpadas e os armários.


A independência da maquiagem e o barulho do salto refogam a alma feminina em cheiro doce. É, dá pra fazer quase tudo sozinha. 

Na primeira noite em que eu dormi na casa nova, pensava nas lâmpadas e nos armários. Ficar sozinha não me assusta. Mas imagina ficar no escuro. Ou empurrar uma estante com todo o peso dos livros nas mãos. Mudar a ordem dos poemas, tirar tudo para colocar de novo, talvez até atirar alguns textos no chão. 

Eu poderia suportar um filme triste num sofá eterno. Mas as lâmpadas sempre foram clichês dos homens. Acho que mulher nasce com o enigma das luzes em casa. "Quando queimarem umas três, eu troco", pensava. Inútil. Muitas delas já vieram queimadas. 

Fui colocando a mobília no lugar. No lugar que dava, que eu conseguia levar. Talvez o lugar certo seja o que a gente consegue chegar. Fui lá e comprei as lâmpadas. Muitas delas, uma sacola. 

A menina do caixa perguntou se eu havia testado. Pensando "a gente testa lâmpadas?", eu respondi "sim, claro". 

Tudo resolvido, exceto uma delas que fica bem em cima de mim no corredor e vive dando mau contato. Nem sei se ela tá queimada ou não, cada dia ela inventa uma coisa. 

Entre as coisas queimadas e as coisas que a gente demora para encontrar o lugar, tudo estava na calma do meu parquet encerado brilhando no escuro. 

É assim, a gente acha que dá pra fazer tudo sozinha. E dá. Mas mulher que mora sozinha vai sempre correr o risco de sair para uma festa com o zíper do vestido aberto.
faz cinco dias e sete pecados que a sissi não me deixa mais dormir.