sexta-feira, 29 de outubro de 2010

praia!


looking for paradise.

carpinejar e bom feriado.

o silêncio não é falta de assunto, é excesso de atenção. quando qualquer palavra machuca.

até na solidão tenho que ser sociável e aprender a conviver comigo.

não saber como vai terminar ajuda a começar.

nossos laços.


poetas de mãos vazias. sonhadores de mãos atadas. meninos com brinquedos espalhados pelo quarto, meninas com as bonecas reprimidas. pessoas com seus jeitos, vontades e virtudes. imensidão do vento, sutil frescor da manhã na primavera. tempero de jazz, cozinha da vida. planos e desejos, abraços e muitos beijos. energia que circula, passa por quem está perto e feliz. energia que retorna. mais forte, mais azul anil. poesia de mãos livres. desatar os nós das mãos que escrevem. usá-las para atingir o céu. seja no seu infinito, seja em teus braços. seja em nossos laços.

e eu quero ir.


isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

(paulo leminski)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

se eu transformasse em prosa
toda a poesia
conseguiria contar uma história
que não fosse vazia

kiss the sky.


não adianta tirar o pó das estantes. as flores secas entre os livros. deixa a idade passar. deixa o dia bater na porta. a rotina tomar forma de vestido vermelho e sair de salto alto pelas ruas na madrugada. não adianta mudar os tecidos, o calor permanece. talvez aumente. não adianta prender os cabelos, o suor parece vir cada vez mais de dentro. assopra meu rosto, deixa sobrevoando em mim o teu perfume. não adianta afastar das minhas costas doentes por ti essa mão que me prende. ela volta a pousar ali, e bem ali me deixa tonta. tuas mãos em minhas pernas parecem estar em casa. elas tocam o que eu sinto medo de descobrir. minha própria pele. pode pintar meus lábios com uma cor da nossa vida, pode prender meus cabelos para que o vento toque apenas meu rosto. 

é, não adianta tirar o pó das estantes. a poeira volta e se entrelaça com os livros. da mesma forma com que você volta e permanece no emaranhado do meu amor mais sincero. bem aqui.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

adorável canalha.



É um defeito, mas nada mais delicioso do que ouvir de uma mulher: "CANALHA!"

Ser chamado de "canalha" por uma voz feminina é o domingo da língua portuguesa. O som reboa redondo. Os lábios da palavra são carnudos. Vontade de morder com os ouvidos. Aproximar-se da porta e apanhar a respiração do quarto pela fechadura.

Canalha, definitivo como um estampido, como um tapa.

Não ser chamado de canalha pela maldade, mas por mérito da malícia, como virtude da insinuação, pelo atrevimento sugestivo.

Não o canalha canalha, mas o ca-na-lha, sem repetição. Único.

Não o canalha que deixa a mulher; o canalha que permanece junto. O canalha adorável que ultrapassou o sinal vermelho para levá-la. O canalha que é rude, nunca por falta de educação, para acentuar a violência do amor. Canalha por opção, não devido a uma infelicidade e limitação intelectual. Canalha em nome da inteligência do corpo.

O canalha. Como um elogio. Um elogio para dizer que é impossível domesticar esse homem, é impossível conter, é impossível fugir dele. Canalha como pós-graduação do "sem-vergonha".

Bem diferente de crápula, que não é sensual e define o mau-caratismo indelével, ou de cafajeste, alguém que não presta nem para ser canalha, de índole egoísta e aproveitadora.

Eu me arrepio ao escutar canalha. Um canalha que significa o contrário do dicionário. Nem perca tempo consultando o Aurélioe o Houaiss, que não incluem o sentimento da pronúncia. Estou falando do canalha que suscita aproximação, abraço, desejo. Um canalha que é um pedido de casamento entre as vogais.

É pelas expressões que se define a segurança masculina. Sempre duvidei de homem que diz que vai fazer xixi. Xixi é coisa de criança. Eu não represo a gargalhada quando um amigo adulto e de vida feita comenta que vai fazer xixi. Imagino o cara sentado. Infantil como Ivo viu a uva. Já urinar é muito laboratorial. Prefiro mijar, direto, rápido e verdadeiro. As árvores mijam. Os relâmpagos mijam. Os cachorros mijam para demarcar seu território. Aliás, o correto é não anunciar, ir ao banheiro apenas, para evitar constrangimentos vocabulares.

Canalha funciona como uma agressão íntima. Uma agressão afetuosa. Uma provocação. Não se está concluindo, é uma pergunta. Canalha é uma interrogação gostosa.

Não ficarei triste se você esquecer meu nome, chame-me de canalha.

Fabrício Carpinejar - Canalha!

yeah yeah yeah!

SARAU CARPINEJAR 38 ANOS 

Um escritor dos mais talentosos e admirados do país chega aos 38 anos cada vez mais pop. Nessa terça, o SARAU ELÉTRICO comemora o aniversário de FABRÍCIO CARPINEJAR com textos, histórias, poemas e diversão garantida para o aniversariante e os convidados.

Com a presença confirmada de LUÍS AUGUSTO FISCHER, CLÁUDIO MORENO, CLAUDIA TAJES
e KATIA SUMAN, que não perdem uma boa festa.

Na canja, um presente especial para o FABRÍCIO, a namorada CINTHYA VERRI tocando e cantando.
SARAU CARPINEJAR 38 ANOS. Mas com corpinho de 25.

canja - CINTHYA VERRI

SARAU CARPINEJAR 38 - TERÇA 26.10.10
OCIDENTE - 21h - 10 pilas

é loucura.


esse jeito de te querer no vazio. jeito estranho de te desejar que aparece do nada. essa coisa doida de não ter nada, mas sentir tudo. eu queria acordar um dia e simplesmente perceber que te esqueci. mas talvez seja melhor acordar nesse mesmo dia e perceber que eu me apaixonei por ti. e que agora te amo. de novo e como sempre. 

chegouuuuuuuuuuuu!

vou me mudar para a praça da alfândega por uns dias. volto já! beijomeliga.
- feira do livro em poa -

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

apenas dois conselhos.


1. não se preocupe com bobagens
2. tudo é bobagem

ah, mais uma coisa.

e se tá com medinho, pede pra sair.
hmpf.

mas onde?


onde foi que a gente se perdeu mesmo? hein?

eu tô.

eu tô
aqui e ali
com medo
sentindo saudades
meio desanimada
mas cheia de vontades

eu tô
fazendo planos
mudando de ideia
saindo de casa
voltando bem tarde
mas cheia de vontades

eu tô
de qualquer jeito
onde eu estiver
morrendo de amores
deixando pra depois
mas cheia
cheia
de vontades

eu avisei.






eu disse que esse curso de fotografia ia me deixar maluca.

domingo, 24 de outubro de 2010

decepção.


decepção. começa que é uma mega palavra feia, vai dizer. e aí ela sempre chega quando a gente tá mais no alto. porque decepção mesmo é coisa grande, nada de probleminha. a gente tá bem por cima, tipo se achando linda, feliz e realizada. e pronto, se decepciona. erra em alguma coisa no meio do caminho, explica mal alguma ideia, pensa em fazer uma coisa e faz outra, quer fazer de um jeito e acaba não se ouvindo direito. droga.

se eu tivesse o telefone do santo das causas impossíveis, ligava pra ele agora e pedia pra ele dar um jeito de me ajudar a não chorar agora. e agora você tá aí, longe de mim pra caramba. e eu aqui, morrendo de saudades. e de dor de barriga. 

decepção é uma palavra que deveria ser destinada apenas a condenados de guerra, gente que cometeu crimes contra a humanidade, sei lá. gente feia e do mal, sabe? a gente que vive numa vibe boa, tá sempre por aí procurando motivos pra sorrir deveria ter uma espécie de proteção contra esse tipo de acontecimento.

mas também a vida não pode ficar paradinha esperando enquanto a gente resolve sacodir a poeira e dar a volta por cima, a vida anda por aí que nem doida acontecendo. então, meu bem, eu vou continuar andando por perto dela. 

sábado, 23 de outubro de 2010

henri cartier-bresson


poucas coisas são tão incríveis quanto a fotografia.

esconderijo.


pela primeira vez me pego com ciúmes de você. logo agora, bem agora. depois de tudo que falamos, depois de tantas ideias, teorias e filosofias. cai tudo por terra. e eu aqui morrendo de medo de te perder (talvez sem nem ter ganho você). prefiro ir para casa. talvez porque ela esteja vazia, e eu adoro quando isso acontece. talvez por medo de mais envolvimento com a tua pele. eu procuro acreditar no que eu penso, no que a minha racionalidade me diz ser mais funcional. mas minha emoção agora toma conta de tudo. até dos meus objetos, das músicas. sou toda emoção. por isso prefiro o silêncio das palavras de uma canção. calma, pra contar nos dedos. beijo, pra ficar aqui. teto, pra desabar. você, para construir. procuro a solidão, como o ar procura o chão. a música se chama esconderijo. e talvez tenha sido no meu próprio esconderijo que você tenha vindo me encontrar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

fusca velho, laranja e amassado.


preciso de um tempo para folhear revistas. preciso de um tempo pra ouvir música alta demais. preciso ficar lendo meus livros, vendo filmes. preciso ver as vitrines das lojas, as cores me fazem ter ideias. preciso ficar sem fazer nada. eu tô quase entendendo onde começa o processo que me faz criar, e isso é maravilhoso. o que eu sei até agora é que tem a ver com música, fotos, referências malucas e desatinadas. tipo um fusca velho, laranja e amassado. 

dez motivos para amar a italia.


1. nada funciona, mas tudo dá certo.
2. você pode comer pizza, massa, lasanha e pão. tudo no mesmo dia.
3. as ruas são estreitas, as pessoas falam alto.
4. existe tudo que é mais legal no mundo: montanha, praia, comida, frio, calor, bagunça, silêncio, caos, amor, lojas, e mais um monte de coisa.
5. as pessoas falam a língua mais incrível que existe.
6. os jogos de futebol são alucinantes.
7. as pessoas estacionam o carro praticamente onde bem entendem.
8. tudo é altamente fotografável.
9. só indo para a italia para entender a italia
10. e quem for, me leva junto? obrigada.

meus amores literários.

 
(luis fernando verissimo)

bom, preciso confessar: tenho dois amores literários. um deles é meu relacionamento mais antigo, profundo, imenso. leve como o que ele escreve, e eu leio desde adolescente. luis fernando verissimo. tenho todos os livros dele, alguns com dedicatórias que me faziam suspirar. eu ia ver o jazz 6 tocar, esperava ele sair para que escrevesse mais palavras suas em seus próprios livros. mas palavras mais especiais, porque eram para mim. era isso que eu fazia com 15 anos, ó céus. eu tenho uma grande coleção de livros dele, super guardada, não empresto pra ninguém, nem adianta pedir. já perdi amigos por isso, eu acho. mas ainda bem, talvez fossem pessoas que não compreendem o valor de um livro na vida da gente, o valor de um autor, seu jeito, suas ideias. nem tô. 

o outro é um amor doido, daqueles de tirar o chão da gente. quanto mais todo mundo ao meu redor o odeia, mais o amo com toda vontade. eu me apaixonei por ele, virou amor platônico, sei lá. eu posso visitar suas palavras, mas apenas de longe. tremo se penso em chegar perto. fui ao sarau no ocidente, em que ele esteve, e fiquei com dor de barriga ao pensar em pedir um autógrafo. não! imagina. depois perde o encanto. depois se consuma, vira história. nada disso. deixa ele bem assim onde está. eu dormindo super tarde para vê-lo falar no jô, eu tentando convencer o mundo inteiro a não falar dele, nem mal nem bem. meu personagem favorito, isso que ele é. devia ser patrono da feira do livro em porto alegre. devia ser eleito rei dos aforismos, presidente dos canalhas, diretor do sindicato dos enamorados, defensor da causa dos ciumentos. carpinejar. amém. 

e agora um fala do outro. ou melhor: o outro fala do um. adorei. marido e amante, um embate memorável. e eu vivo passeando pelas palavras de um e de outro, tem coisa melhor que isso?


(fabrício carpinejar)


Texto extraído do Blog do Carpinejar

VERISSIMO

Qual o maior cronista vivo? Luis Fernando Verissimo. Até no mundo dos mortos, ele se daria bem. Acredito que arrebataria o vice-campeonato, ficando somente atrás de Rubem Braga. A vantagem do capixaba seria simbólica, talvez pelo saldo de gols. Os dois foram fundamentais na definição do gênero no Brasil. O primeiro construiu toda a estrutura da crônica, diferenciando o texto leve e lírico do conto; o segundo confundiu tudo, aproximando a crônica novamente do conto com o uso perfeito dos diálogos.

E de quem sou interino? Luis Fernando Verissimo. Ao receber cumprimentos pela substituição, sempre penso que são pêsames. Minha culpa é explicar:

– Logo Luis Fernando volta, meu trabalho é aumentar a saudade dele.

Vejo que o jornal Zero Hora se dispõe a destruir minha carreira. Não há como sobreviver a sua interinidade. Mesmo que tocasse clarinete nas horas vagas e criasse um Jazz 7.

Ainda por cima, sou uma matraca, correndo graves riscos de dizer bobagem. Verissimo é o contrário: contido. Suas palestras são mímicas, dispensam a tradução para Libras. Os amigos falam por ele e ele retribui escrevendo pelos amigos. Um negócio perfeito.

Emudeci nos momentos em que abracei o autor. Permaneço quieto, e ele, quieto. É possível ouvir nossa respiração soletrada. Um repete o outro. Tudo bem? Tudo bem. Céu azul? Céu azul. Ele não sofre com o desespero. Não é problema de falta de assunto, é temperamento. Encontrar-se com Verissimo é entrar no elevador: ninguém solta um pio. É ter a solidão reembolsada com juros.

Ansioso, faço loucuras para romper o nervosismo, inclusive confessar os pecados. Como ele é célebre pela sua timidez, qualquer timidez em sua frente é uma imitação. Para ele, aquilo é rotina; para mim, é mal-estar. Praticamente impossível ser inteligente ao lado de um homem quieto.

Como não conseguirei vencê-lo na escrita, decidi superá-lo no silêncio. Precisava de muito treino. Experimentei dois dias longe de minha voz. Os filhos não compreendiam, sondavam que virei Hare Krishna. Não atendi telefone, e almocei e jantei calado.

Quando calculei que estava pronto, fui ao combate. Empreguei golpes baixos como piscar e pigarrear. Quase bati palmas perto de seus cílios. Ele se conservava imutável. Não mexia os braços e os lábios.

Uma hora e meia de completa meditação, e desisti, perguntei se tinha um lenço para secar o suor. Ele me alcançou do bolso de trás da calça. E, sem piedade, o cretino não proferiu nenhuma palavra de consolo. Não posso brincar de estátua com quem já é uma.



e o super azar da vida: os dois são muito colorados... assim como praticamente todos os amores da minha vida. 

mais força.


fiquei mais forte. completa. fiquei sozinha, parece que estava te esperando sem nem mesmo saber disso. apareço sempre como eu mesma em tudo. a vida está ficando mais autêntica. basta eu entender o que me faz perder, e aí passo apenas a ganhar. preciso de mais elementos fortes. menos tons claros. mais decisões, mais projetos grandiosos, mais amigos maravilhosos. parece que me apaixonei por você. mas acho que isso só aconteceu porque antes de tudo me apaixonei por mim. 

livre-se do lixo.


conexão. é você estar no lugar certo na hora certa. é você entrar naquela rua só porque deu na telha. e descobrir uma feira de verduras coloridas e fresquinhas pra encher a sua alma. 

conexão é mais que coincidência. aliás, nem se compara. 

é entender que algumas coisas estão totalmente ligadas a outras. e tudo vai seguir um processo. e daí você tem que dar o start, tem que se livrar do lixo e fazer a primeira coisa certa, que se conecta à outra e life goes on like this. 

tem dias em que tudo parece dar errado. você acorda batendo um cotovelo no armário, a escova de dentes cai no chão, o banho fica frio. tropeça em qualquer coisa, nada flui. alguma coisa está mal (fora todas essas que deram errado). vira o disco, volta pra casa, vai fazer uma faxina, ouvir música e dançar na frente do espelho. muda a atividade. pega um filme engraçado. esquece.

aí provavelmente vai começar a aparecer na sua frente a conexão errada que você esteve fazendo. e corta. naquela linguagem clichê: corta o mal pela raiz. muda de comportamento. beleza, daí você acaba de criar outras conexões. e se elas forem baseadas em coisas funcionais pra você, tudo vai começar a fluir de maneira mágica, assustadoramente bela. e vai, meu bem, vai fundo. 

não esquecendo que o mais importante é estar conectado em você. com toda a velocidade do mundo, sempre e constantemente. nem dá pra aguentar mais esse papo de "faça o que você quiser, o que te dá prazer e blá blá blá", parece simples demais pra funcionar. tenta e depois me avisa o que aconteceu. beijomeliga.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

uma pessoa me disse.


"é fácil não perceber algo que você não está procurando"
essa frase teve muitos desdobramentos... mas isso é outra história.

e agora?

o que eu faço comigo mesma se não paro de pensar em você?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

caminhando na fotografia.


saio de casa, preciso de um café. caminho pelo sol, preciso mesmo de um café. cheguei na faculdade, semana acadêmica. como pesquisar artigos para TCC, justo agora. bem agora. aula e aula. tá quente aqui dentro, liga o ar. tá frio aqui dentro, desliga. 

saio correndo, ou melhor, caminhando. tirar fotos da loja, ligo pra mãe. ela me pede ajuda, conselhos, beijo me liga. lá vou eu. caminhando. almoço correndo, conversas, ideias, referências, caminho meus pensamentos por tudo que conheço tentando criar coisas interessantes. 

e vou de novo. aula de fotografia. preciso de outro café, eu acho. tô aprendendo uma quantidade tão grande de coisas por segundo, que a minha cabeça fica girando em torno dela mesma. saímos para pegar as pinholes, eu escolho a mais bizarra. lata de omo, oh céus. quem diria que eu ia fotografar com uma lata de omo. 

caminhando pela grama, tentando achar algo legal para fotografar. caminho pelo céu, pelas árvores, pelas fotos. caminho por tudo que eu queria registrar. caminho por dentro de mim mesma, tentando absorver toda felicidade que está em volta de mim. momento de revelar as fotos. momento de ter paciência. a luz é linda, estamos encantados. 

caminho no dia, andando para realizar. sorrio ao ver o que existe de mais simples. alguém teve a ideia maluca de tentar registrar o que via, chamando isso de fotografia. 

mas o que mais importa nisso tudo é a arte de registrar na vida tudo aquilo que traz alegria.

(e a foto não tem muito a ver com isso, mas achei ela linda!)

seu nome, fabrício corsaletti.

eu tinha curtido muito. a katia suman falou num sarau esses tempos e aí lembrei que eu já tinha visto em algum lugar... e foi nesse vídeo. bem tri.


se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho, no suspiro final balbuciarei o seu nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem “mãe” em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem “filha” em vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no seu nome
cabala é uma palavra linda, mas não chega aos pés do seu nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida, mas isso não tem nada a ver com o seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu nome
talvez eu não seja um poeta a altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer explicitamente o seu nome

revoltas e releituras.

ele te chama de linda, você acha o máximo. mas talvez seja porque ele não lembra seu nome. ele diz que você especial, você (mesmo sabendo que não deveria) acredita. ele tem uma coleção com umas duzentas e vinte cinco tão especiais quanto você. 

ele convida você para sair e depois desmarca, porque teve algum imprevisto. você entende. provavelmente o imprevisto tinha nome de mulher, talvez alguns quilos a menos e umas bundas a mais que você. ou então ele simplesmente mudou de ideia, e você aceita, mesmo assim. de novo. 

ele parece estar apaixonado. você sente isso em todos os momentos, jura, jura mais uma vez, que não são coisas da sua cabeça, ele está mesmo demonstrando o quanto te adora. e ele some. puf. mágica. você não entende os motivos. e em movimentos mais rápidos que qualquer coisa muito rápida que não me vem em mente agora, ele aparece com outra! e mais outra! nossa. deve ser comigo o problema. 

ele repete com as outras as mesmas coisas que fazia com você. e que já fez com meia geral do grêmio. os mesmos gestos, flores, momentos, abraços. tudo que parecia tão único, agora é tão estúpido. tudo que parecia ser novo e belo, agora é pior que usar chinelo com meia. mais sem graça que o faustão. 

você precisa que montem um outdoor na sua frente com os dizeres: cai fora, esquece, não vale a pena, piscando em luzes verdes, reluzentes e gigantescas. você precisa de mais sinais para se convencer. e aí aparece: aquele último sinal que faltava. pra você cair fora, pegar suas coisas, se dar o devido valor e sair de cena rindo. 

da cara dele, óbvio. 

obs 1: eu deveria moderar os comentários desse post, mas paciência, agora já falei mesmo...
obs 2: eu acredito no amor.
obs 3: essas coisas que acontecem aos atropelos pelo caminho da gente definitivamente não são, nem se parecem, com o amor.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

relatividade.

"tudo é uma versão de outra coisa."
(acho que é do filme francês tout pour plaire)

a hora da verdade.

agora eu preciso falar. é o seguinte: nunca, de maneira nenhuma, em hipótese alguma, de jeito nenhum, peça para o seu cliente resolver um problema que você pode/deve resolver.

explicando: liguei agora para o café da oca (um dos lugares que eu mais gosto em porto alegre), porque eles mandaram email de divulgação de um show que vai acontecer sábado que vem, e eu gostaria de reservar uma mesa. ok. no fim do email diz assim: reservas no telefone blá blá blá. veja bem, não diz horário para telefonemas de reserva, não diz com quem devo falar para reservar. ok.

ligo para lá. atende uma pessoa, e quando eu digo que quero realizar essa reserva, ela me pede: "você pode ligar daqui a pouquinho e falar diretamente com o gerente?". não. eu não posso. você deveria ter anotado aí. na mesa, na parede, num guardanapo, na mão. era só anotar meu nome e telefone, e depois repassar para o gerente a minha reserva. porque se você não tinha a possibilidade de realizar reservas, deveria ter escrito no email alguma informação que me poupasse de ligar, o gerente não deveria ter saído, ou você deveria ter anotado meu telefone e me ligado assim que possível, enfim...

parece uma bobagem isso que eu estou falando, né? mas não é. é a hora da verdade. a hora em que o seu funcionário está prestando um serviço (o atendimento em si), e ele pode colocar tudo a perder, ou pode ganhar um cliente satisfeito e feliz para sempre amém. fidelizar um cliente não é anotar num papelzinho quantas vezes ele já almoçou no seu estabelecimento para dar um almoço inteiramente grátis quando ele chegar na quadragésima vez. isso é besteira.

fidelizar é mais. é atendê-lo da maneira que ele menos espera, surpreendendo, criando valor no que você faz. fazendo com que uma pessoa que está te procurando (gente, era euuuu que estava ligando pro café de vocês!) se sinta realizada e feliz. mesmo que por um café, ou por um show.

e isso é marketing. e me revoltei mesmo. 

so easy.


"faça coisas interessantes, e coisas interessantes acontecerão a você."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

are you gonna fly high?


se alguém ousasse cortar suas asas, você desistira de voar? 
aliás, se alguém falasse que você nem pode voar, você acreditaria?

você diria algo do tipo: é, você tem razão. eu não posso voar. nem sei como pensei nisso... bobagem minha. você sairia andando de cabeça baixa, triste e deprimido, pensando que o mundo é injusto e aquela coisa toda, e dizendo que nada dá certo pra você, ó céus, ó vida, se algum Deus por aí existe é tudo culpa dele e ele é sacana pra caramba. você faria isso? não, né? desculpe a grosseria, mas você faria. por sinal, eu sinto informar que você já fez. faz isso o tempo todo. você tem feito isso tantas vezes quanto escova os dentes ou toma banho. todo dia, certo. é revoltante, uma merda. falei. a gente fica o tempo inteiro cortando (em pedaços, eu diria) as próprias asas. 

leia três vezes: não são as pessoas que podam nossos sonhos, somos nós. de novo: não são as pessoas que podam nossos sonhos, somos nós. e para finalizar: não são as pessoas que podam nossos sonhos, somos nós.

mas eu não tenho dinheiro, te organiza, trabalha, junta, espera e faz. mas alguém disse que não era pra fazer, azar é de quem falou. mas agora não dá tempo, mentira, sempre dá. mas não tenho como ir, pede carona. mas não consegui terminar, dorme mais tarde. mas não lembrei que era pra ser feito, compra uma agenda. 

quando a gente passa acreditar em qualquer outra pessoa (e não no que a gente pensava desde o começo) perde de fazer coisas que alimentam a nossa alma. coisas que nos deixam no trilho da nossa própria vida, coisas que são feitas de coração e levam à felicidade. são essas as nossas asas. então se você me disser que alguém cortou suas asas, meu bem, eu lamento, mas vou ter que responder: se alguém cortou, é porque você deixou.

domingo, 17 de outubro de 2010

meus olhos doidos.


não, eu não chorei. isso é delicioso. eu não chorei quando a flor secou, não chorei quando você se foi. até. eu nem sabia se o adeus existiria (em algum outro lugar que não dentro de mim). eu nem sabia. há um sabor de palavras que ficaram por lá. esse sabor é forte, daqueles que deixam gosto na boca. mas não, eu não chorei. se chorasse por você, eu ficaria triste por mim. essa marca que você deixou (quando foi, porque você foi... você precisa ter ido) tem cor de primavera. uma paisagem na janela. você apareceu e foi embora como quem tem medo de ficar. você apareceu e me deixou cuidando de mim mesma. e o que você fez de melhor foi ter ido. porque eu descobri o que sou depois disso. e por isso meu amor (sim, eu acho que de alguma forma eu amo você) será eterno. em todas as vírgulas, pontos. em todos os suspiros, em todas as saudades. 

sábado, 16 de outubro de 2010

parques em porto.



verão: fico tão feliz que você está na estrada a caminho daqui.

tem horas.


tem horas em que a pele aparece. os cabelos ficam ondulados com o vento. tem horas em que qualquer instante vira um momento. tem horas que são. horas. tem cor, tem desespero. tem uma camiseta amassada, branca e suada. tem os pés descansando ao sabor do nada. tem a madrugada. as saias rodadas balançam. os movimentos mais sutis viram eternidade. tem horas em que vidas se cruzam, e tem outras em que as vidas passam pertinho, nem se olham, e vão embora. tem as horas mais escuras, as horas mais etéreas. eu fico apegada a palavras, brincando de encaixá-las de diferentes formas em diferentes contextos. fico brincando de encaixar o que vivo em mim mesma. e descubro que quando não estou comigo, me dá uma saudade enorme do que sou. fico brincando com as palavras, agora são as horas. podiam ser os dias, já foram as semanas, podem até ser verbos. fico horas, dias, verbos. a pele novamente aparece: enrola-se no teu corpo, me leva para a cama, me leva para longe. das minhas próprias horas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

frigideira não tem tampa.


ser inteiro. panela sem tampa. frigideira. não quero a metade da minha laranja. aliás, nem quero laranja. ser tudo ao mesmo tempo. ser sozinho em dois milhões. ser pela metade em qualquer momento, para depois ser totalmente preenchido. ser inteiro. ser um livro na madrugada, ser uma chuva na sacada. ser uma rima sem graça, ser um abraço perdido, achado, desejado. ser uma página virada, ser alguém que quer tudo e nada. ser momento e poesia, ser de mim. alegria. passei a ser mais uma coisa. coisa essa eu nem diria. passei a ser apenas eu, e desse jeito assim, jamais saberia. 

felicidade tem limite?


precisando de tempo para escrever sobre a peça dez quase amores. precisando de inspiração para falar do feriado, dos filmes, dos momentos. precisando de uma barra de chocolate para aliviar o medo que se mistura ao fascínio de descobrir alguém. precisando de uma agenda para marcar de vermelho todos os dias em que eu me senti perdida por ter me apaixnado. precisando acreditar em tudo que tem acontecido. precisando parar e pensar, para decidir com calma. precisando descobrir um jeito de não esbarrar em nada nesse lindo caminho que tenho pecorrido. precisando entender a gravura que eu comprei. precisando de uma caneca nova para a minha coleção. precisando fechar portas, eu sei que ando precisando. precisando deixar entrar na minha vida quem anda batendo na porta dela, por mais assustador que isso pareça. logo agora. precisando viver sempre inteira, que nem eu ando sendo. finjo que estou precisando de tanta coisa, porque toda essa felicidade em mim está passando dos limites. acho que eu tô precisando mesmo é acreditar que felicidade não tem limite.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

a um passo.

Deixa ser.
Como será quando a gente se encontrar ?
No pé, o céu de um parque a nos testemunhar.
Deixa ser como será!
Eu vou sem me preocupar.
E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.


Retrato Pra Iaiá - Los Hermanos

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

fotografia.


A partir de hoje eu sou fotografia. Só falarei nisso, comerei fotografia, dormirei fotografia. Quando eu achar que enjoei de fotografia, encomendarei mais um lote de fotografia. Quando as pessoas ao meu redor estiverem surtadas de tanta fotografia, chegará um caminhão de fotografia na porta de casa. Lerei livros de fotografia. Eu enxergarei fotografia em todas as coisas que passarem na minha frente. Vou viajar para fazer fotografia, vou ficar em casa para fazer fotografia. Vou namorar a fotografia. Aliás, eu serei fotografia. Nada mais me encanta, desperta, intriga, fascina. Eu vou criar um abaixo assinado para que todo mundo possa um dia entender a fotografia, eu vou criar uma guerra civil em qualquer país onde as pessoas não sejam doidas por fotografia. Nada vai ter sentido, se não for fotografia. Nada tendenciosa essa fase da minha vida, mas eu entrei em um mundo apaixonante, de verdade. E eu adoro a intensidade da vida, dos momentos. Nada como viver por inteiro algo que só traz felicidade. Nada como aproveitar cada instante de beleza. 

E registrá-lo, se possível... Numa fotografia. 

senza parole.





E ho guardato la televisione
E mi è venuta come l'impressione
Che mi stessero rubando il tempo e che tu..
Che tu mi rubi l'amore
Ma poi ho camminato tanto e fuori
C'era un gran rumore
Che non ho più pensato a tutte queste cose

Senza Parole - Vasco Rossi

terça-feira, 12 de outubro de 2010

voltei do meu mundo.

Voltei da praia. Cheguei impressionada. Com sono, com fome. Estava sozinha, fazendo tantas coisas. Serena. Mas muito impressionada com os relacionamentos. De novo, meio repetitivo esse assunto, eu sei. Mas a gente tem que admitir que a vida é feita deles. Nem sei se devo escrever, no meio de tanta coisa. Prefiro apenas deixar de lado. Mas uma coisa eu posso dizer: quem antes me decepcionou, continua decepcionando. E quem sempre me fez feliz... Anda fazendo mais ainda. 

correndo.


muita felicidade depois de correr sexta às 8:30 da manhã...
até toalha vira cachecol, hahahahaha. 

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

mas o que você anda fazendo da vida?


Eu não gosto de gente que me pergunta: “o que você anda fazendo da vida?”. Vamos partes. Primeiro, eu quero matar o sujeito. Ok, passou. Meu instinto assassino não deve durar mais que um segundo, mas é sempre bom ter cuidado. Depois, eu fico sem resposta. Será que eu digo trabalhando? Estudando? Estudando e trabalhando, pronto. Aliás, estudando muito, trabalhando mais ainda. Melhor: estudando muito, trabalhando mais ainda, morrendo de saudades da minha prima de terceiro grau que mora na Sibéria, planejando ir morar no exterior, cuidando de dez gatos, ouvindo barulhos da festa do vizinho, torcendo pro meu time ganhar, procurando o cortador de unhas, fazendo a mala e indo dormir cedo. Gente, o que você anda fazendo definitivamente não é a pergunta ideal para começar uma conversa.  É aberta demais, subjetiva demais. Chata demais. Deixa a pessoa sem saber o que responder. Talvez ninguém na face dessa terrinha concorde comigo, mas eu prefiro que alguém que convide pra tomar um sorvete na praça do que me pergunte esse maldito o-que-você-anda-fazendo-da-vida. Até porque eu não ando fazendo nada da minha vida. Eu ando vivendo a minha vida. 

sim.

me apaixonei por sei lá eu o quê.

definitivamente não sei de nada.

não sei se caso ou compro uma bicicleta.
por isso resolvi começar meu tcc agora.

o que se faz em um segundo.


eu adoro perder a noção do tempo. adoro quando uma semana parece que durou um mês de tanta coisa que eu fiz. adoro quando eu saio de casa com uma listinha de tarefas (sim, eu tenho listas de tarefas em papéis mega coloridos e divertidos) e nem acredito quando consigo chegar em casa e riscar uma por uma, e descobrindo que eu consegui fazer tudo. adoro quando acontece uma quantidade de coisas lindas, absurdas e inspiradoras comigo num dia só. eu deslizo, uhu. parece que flutuo. eu queria escrever sobre tudo que chama a minha atenção num dia só. mas aí precisaria de uns dez blogs. árvores, pássaros, saudades, cafés, a joão telles, a feira, uma criança de meia-calça listrada. alguém que me surpreende, clichês dos quais nunca vou me cansar. (leiam isso como se eu estivesse prestando o juramento mais importante de toda minha existência).

a maioria das coisas nessa vida é, sim, relativa. e o tempo é, para mim, a mais relativa de todas elas. dá pra se apaixonar em um segundo, dá pra apertar o dedo numa gaveta em um segundo. dá pra mudar de ideia em um segundo, dá pra evitar uma briga em um segundo. nem sei dizer tanta coisa que dá pra fazer em um segundo, numa hora. numa noite. dá pra dormir uma noite inteira, dá pra fazer amor uma noite inteira. o tempo é tão belo e tão tão tão relativo. que às vezes perco a noção.

e quando eu perco a noção do tempo, acho que é porque eu tenho feito muito de tudo.

e depois do meu texto.


a) medo de escrever outros, e ninguém gostar.
b) pensando em como abrir e fechar as minhas portas.
c) furiosa com um taxista maconheiro e mentiroso que me trouxe em casa.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

sublime encantar-se.


Psiu. Será que você vai se encontrar em mim? Ainda me pergunto se você deve se procurar. E ao invés disso, se você acabar me encontrando, o que será de mim, então. E se você não encontrar nada, apenas os meus vazios, como vou sorrir aos teus olhos. E se você encontrar coisas que nem sei que sou, como vou viver um futuro que eu nem imaginava. Psiu. Para alguém entrar, as portas devem estar abertas. Portas entreabertas geram desconfiança. Portas entreabertas, além disso, são escravas de qualquer vento que possa num instante fechá-las. Psiu. Fica por perto, chega de pensar. As respostas para as tuas perguntas não estão no conforto gerado pela lógica dos teus pensamentos. Estão no linear da intuição. As respostas é que vão te encontrar. E para isso deves deixar a mente livre. Quando choverem pensamentos, feche as janelas. Não escute nem os barulhos dos pingos lá fora. O meu carinho pode te proteger. Mas nenhuma presença vai te curar da solidão das tuas escolhas. Ela é necessária. Por isso (mais ainda) não esqueça de deixar as portas abertas. A gente nunca sabe quando o amor vai resolver entrar. 

para viver um grande amor.


Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.

Vinicius de Moraes

Texto extraído do livro "Para Viver Um Grande Amor", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1984, pág. 130.

domingo, 3 de outubro de 2010

eat pray love.


Eu comprei esse livro enquanto estava em Garopaba. Entramos numa livraria e eu simplesmente queria um livro legal para ler nas férias. Compramos juntos, dois livros. Eu, esse. Ele acabava sempre comprando livros complexos, sobre mitologia, história e coisas afins. Isso me fazia admirá-lo.

Devorei o livro em poucos dias. Pensando que era uma linda história de amor. Mas eu enxergava o amor errado. Achava que Liz estava realizada mesmo ao final do livro por encontrar seu amor fora dela. Mas não. Ela encontrou a si mesma. E é isso que tem acontecido comigo neste ano. Não larguei tudo para viajar pelo mundo (ainda), mas estou me achando. Onde será que eu andei por todo esse tempo? Onde eu enfiava todas essas escolhas legais que tenho feito ultimamente? Onde estava essa paz? Onde estavam esses momentos, esse prazer em viver cada dia? Não cheguei a sofrer, de maneira alguma, mas passei muito tempo vivendo coisas que não eram minhas. Vidas que não eram minhas. Histórias e neuroses. Por que isso? Hoje assisti esse filme com o coração feliz. Sim, cheio de clichês. Sim, se tivesse sido produzido na Europa talvez a crítica tivesse aplaudido mais. Sim, os gaúchos bairristas ficam furiosos porque quando aparece o personagem nascido aqui, ele sempre vem acompanhado de bossa nova. Não me interessa. Eu adorei, chorei, sorri. E me vi ali. Bem ali. Não sei se a minha primeira parada vai ser a Itália, mas que eu estou pronta para viajar e viver, para escolher e viver a minha felicidade. Ah, estou.

Obs.: e só vão ficar perto de mim as pessoas que quiserem viver bem assim!



E um dos meus trechos favoritos. Um tapa na cara, mas às vezes a gente bem que merece.

Então fique sozinha, Liz. Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados.

(...)

Além disso, tenho problemas de limites com os homens. Ou talvez não seja justo dizer isso. Para ter problemas com limites, é preciso primeiro ter limites, certo? Mas eu sou inteiramente tragada pela pessoa que amo. Sou como uma membrana permeável. Se eu amo você, lhe dou tudo que tenho. Dou-lhe meu tempo, a minha dedicação, a minha bunda, o meu dinheiro, a minha família, o meu cachorro, o dinheiro do meu cachorro, o tempo do meu cachorro – tudo. Se eu amo você, carregarei para você toda a sua dor, assumirei por você todas as suas dívidas (em todos os sentidos da palavra), protegerei você da sua própria insegurança, projetarei em você todo tipo de qualidade que você na verdade nunca cultivou em si mesmo e comprarei presentes de Natal para a sua família inteira. Eu lhe darei o sol e a chuva, e se não estiverem disponíveis, darei-lhe um vale de sol e um vale de chuva. Darei a você tudo isso e mais, até ficar tão exausta e debilitada que a única maneira que terei de recuperar minha energia será me apaixonar por outra pessoa.

(Elizabeth Gilbert em Comer Rezar Amar)

é disso que eu ando falando.



aiiiii, rodrigo amarante.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

tudo (e nada) a ver.


sinto que deixei todas as portas abertas. parece que cada momento que eu vivo dura em torno de uma semana. tudo se multiplica antes de chegar em mim. e só chegam as coisas que eu quero. eu procuro minhas músicas. deixo as palavras passeando bem devagar. me permiti um instante de raiva. sim, que raiva. eu contei com quem mais gosto para que esse instante se perdesse no ar. conforto.

as coisas tendem a perder o sentido, porque a única coisa que eu queria agora é comprar uma guitarra. deixá-la parada até aprender a tocar uma nota que fosse. as portas estão realmente abertas. entram canções, desfilam paixões. reinam absolutas as minhas escolhas. num imenso oceano de possibilidades, nessa madrugada eu compraria a tal guitarra. nem que fosse para deixá-la mesmo parada. até aprender a tocar todas as notas que existem.