domingo, 6 de novembro de 2011

sobre santiago (ou ouvindo loucamente toro e moi num ipod verde)



"Regressei de minhas viagens, naveguei construindo alegrias." - Neruda

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O texto ficou enorme, mas azar.

Eu sempre achei meio chato ficar contando mil histórias de uma viagem, mas me enganei. Voltei do Chile nesta semana e várias pessoas queridas e amadas da minha vida quiseram me ouvir falar do que aconteceu por lá. E várias coisas aconteceram por lá. Aí nessa madrugada de sábado eu resolvi rever as fotos e pensar em coisas bacanas para compartilhar por aqui. São tipo pílulas da minha viagem para vocês. Nada demais, nenhum diário de viagem ou coisa assim... São reflexões, inspirações, devaneios... Coisas que talvez mereçam ser espalhadas em algum lugar por aí.

Eu saí de Porto Alegre de madrugada. Demorei para entrar na viagem. Tem viagens que a gente parece que sai uma semana antes, de tanto que pensa no assunto. Mas não, nesse caso parece que eu só me dei conta de realmente estar no Chile quando eu terminei de tomar café da manhã no primeiro dia da trip. E confesso que ainda não entendi direito isso. Deve ser a quantidade de coisas em que eu pensava quando saí de Porto Alegre. Vai saber. 

Santiago é uma cidade encantadora. Ui, pareço site de dicas de turismo e coisa e tal. Mas é. É solar, limpa, linda, vibrante e visceral. Tem história, tem polêmica, tem poesia, tem gente. Sim, você deve estar pensando que toda cidade tem gente. Mas ali a gente sente as pessoas. A gente vibra. 

Eu viajei sozinha. E foi mágico. Não fique com pena de mim achando que eu não teria ninguém pra me fazer companhia. Tá, eu não tinha ninguém pra me fazer companhia, mas não há problema nenhum nisso. Eu não fui em busca de ninguém, nem de mim mesma. Não foi uma viagem para me encontrar, para buscar alguma coisa que eu não sei, enfim. Não foi nada disso. Foi uma viagem para fazer duas coisas: conhecer as três casas de Pablo Neruda e andar de bicicleta. 

E foi isso que eu fiz. Isso e mais uns cafés com pernas (coisa que só posso contar ao vivo), alguns livros em sebos, muitas caminhadas e muita introspecção. Quem me conhece sabe o quanto eu sou extrovertida, comunicativa, falante e saltitante. Mas lá em Santiago eu fiquei muito diferente. Fazia muito tempo que eu não me sentia sozinha mesmo. Não é aquele sentir-se só, abandonada, sei lá. É literalmente sentir que eu estava sozinha. Sozinha na vida, no mundo. Exagerada.

Eu comprei fones de ouvido e me dei conta que às vezes a gente sobrepõe todos os sons na mesma batida. Sons que deveriam acontecer sozinhos. Ou sons que a gente não deveria nem ouvir ainda. Sons que tanto abafam o silêncio de ser. 

Eu entrei nas casas do poeta que para mim ensina as três coisas que são a minha fé: amor, intensidade e poesia. E não falo em poesia com métrica, com palavras, com rimas. Falo poesia da paixão. Poesia da vida. Poesia do detalhe, poesia do dia. 

Eu comprei uma flor para mim mesma e deixei ela do lado da cama no hostel. Ninguém entendeu. Assim como ninguém entendeu que eu usava pijama e chinelos amarelos. Ninguém entendeu, mas também ninguém perguntou. E tem umas coisas que a gente fica um tempão sem entender justamente porque não pergunta. Né.

Eu conheci pessoas de vários lugares do mundo. Até aqui nada de novo. Mas o novo foi ficar pensando, mais do que nunca, na quantidade de lugares incríveis que a gente tá perdendo. Senti uma ansiedade geográfica. Uma pena de ser uma só. Sabe. E aí me dei conta de uma coisa: se a gente realmente parar para ouvir uma pessoa contar sobre a sua cidade, a sua casa, o seu trabalho, a gente acaba pegando um pouquinho daquela experiência. E é como sentir que conheceu junto. Eu senti isso. Juro. Fui para Barcelona, Bogotá, Marselha e até para Porto Alegre, quando ouvi um casal de gaúchos contando uma história simples e super legal sobre a casa deles na Zona Sul. E eu nem conheço nenhum desses lugares. Mas parece que eu fui junto quando parei e ouvi.

E na real eu fiz muito mais coisas do que essas que eu vim aqui contar, mas eu vou deixar numa nuvem pertinho da minha mente toda essa experiência. É um álbum de fotos que fica no dia a dia. É uma mala a mais na bagagem da minha vida. E é mais esperança, sabe? De vida para vir, de coisas para tirarem meu sono. Nem que seja simplesmente para acordar e ir cedo para o aeroporto porque o voo é de madrugada. 

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