segunda-feira, 10 de outubro de 2011

se eu pudesse, pintaria um quadro.


Quando a solidão se torna imperativa. Quando até as melhores músicas viram barulho. Deitou na cama. Por cima das cobertas, com a roupa da rua. 

(Ela nunca deitava na cama com as roupas vindas de fora)
(Era neurose, eu acho)
(Sentia que sujaria seu pedaço de lençol)

Talvez nem tenha reparado que era mesmo o vestido cinza. Aquele, sabe? Que pedia para sair rodando com ela pela calçada. Um vestido que a deixava envergonhada... Não pelas tramas, não pela cor. Mas mostrava um pouco mais das suas costas que havia previsto. Ele andava para o lado, ela puxava um pouco mais. Um cinto talvez resolvesse. Poderia prender a parte debaixo, enquanto a de cima dançaria mais. Não. Uma camisa por cima? Queria cobrir o que mesmo? Ah, as coisas que não podem ser vividas.

(Nada)
(Queria cobrir seu desejo)
(E a cama começava a namorar as roupas da rua)

O tempo que a gente fica olhando para um ponto é o mesmo tempo que a gente fica não olhando para outros milhares de pontos. E assim é. Com todos os pontos, o tempo todo. O vestido era comprido e se misturava um pouco às cobertas. O telefone tocou. 

(Medo de atender?)
(Medo de ouvir?)
(Medo de falar?)

(Nada)

Medo de te descobrir. Medo de me errar. O oposto de amor não é indiferença. Não é ódio. É medo. A gente já ouviu isso por aí. Eu pintaria um quadro, se eu pudesse. Para parar de ter medo. 

O vento fala baixo, o volume mais alto é o de um sussurro. O som mais profundo não tem tom. A liberdade é relativa. A falta é subjetiva. Mas a vontade de amar, de entregar-se ao que fica da conexão de duas pessoas lindas e plenas de si é etéreo. É absoluto. 

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