domingo, 8 de maio de 2011

manifesto de agradecimento.

eu e minha mãe.
no aniver da minha irmã.

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Mãe não cansa de nos buscar na escola,
mesmo quando não há mais escola.
(F. Carpinejar)

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Acordei e liguei para a minha mãe. Tentei disfarçar a voz, rouca como um acidente na esquina. 

- Que voz é essa?
- Teve festa ontem à noite.
- Onde? Quem tava? Chegou que horas?

É, com essas três perguntas, qualquer pessoa teria certeza de que foi a mãe que atendeu ao telefone. Num caso de sequestro, quando pedissem para falar com a mãe no cativeiro, seria só ela perguntar qualquer uma dessas coisas e a gente saberia que está viva. Normalmente, o que mãe quer saber da gente é o que a gente sempre nega no começo porque precisa desabafar no final.

Mãe é como ter feriado toda semana, é como morar na praia e poder almoçar picolé. É ter e não ter rotina, é nunca poder dormir de madrugada e ganhar cafuné nos dedos. 

A gente adora fingir que está chamando a atenção da própria mãe.

- Mãe, tu tem que te cuidar também. Pensar mais em ti. 

Ela finge que ouviu e vai fazer o milésimo melhor almoço das nossas vidas. Que é outra coisa que eu não consigo entender: comida de mãe. Passei uns dias testando a teoria de que nem comida de mãe requentada é igual à comida de mãe. Fato. Não é. O melhor carinho é o que chega na hora. 

Tem muitas coisas impossíveis de decifrar nesse universo. A capacidade de não dormir para cuidar da gente. Quando uma mulher vira mãe, alguma coisa no corpo deve fazer com que sejam suficientes as horas que ela dormir. As únicas oito horas de sono que devem importar são as do filho. E será assim para sempre.

Mãe sempre vai ter a bendita razão, o que é sempre útil para nós. Mesmo quando estamos totalmente errados. E mãe não vai ser como aquele nosso amigo que fala, com todo sarcasmo, "eu avisei". Ela avisou, sim, uma dúzia de vezes. Mas está ali como se nem tivesse notado. E sofrerá as suas dores. 

O mais delicioso da vida é que só conseguirei agradecer mesmo tudo que a minha mãe é para mim quando chegarem os meus filhos. A gente agradece aos pais educando nossos filhos. 

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Obviamente, este texto é para a minha mãe.
Mas eu vou guardá-lo para os meus filhos.

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Créditos de "almoçar picolé": Gabi Guerra.

Um comentário:

  1. adorei os créditos! hahaha
    vamos marcar um almoço gelado um dia desses ;)

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