segunda-feira, 23 de maio de 2011

quando acontece de sentar no chão.


versão beta do texto. ainda vou mudar alguma coisa aqui, só não sei o que ainda.

***

- amor.
- hm?

sempre tem uma palavra amor que pretende começar uma conversa sem fim na beira da cama.

- tu vai torcer por mim amanhã?
- nem sabia que tu ia jogar.
- ai, amor.

ela ficava pensando de onde ele tirava tanta criatividade para não dizer quase nada. mas a diversão com suas frases era a leveza do início. que ainda morava com eles, ainda bem. 

- eu te falei, lembra?
- lembro. claro que lembro.

ele não lembrava. 

claro que ele não lembrava. ela teve a paciência de explicar de novo. 

tinha a ver com aquela velha amiga da infância, que encontraram semana passada numa viagem, totalmente sem querer, que ficou de ligar para marcarem alguma coisa. sabe? todo mundo achava que ela nunca ligaria, mas ela ligou, duas vezes até. daí foram para o tal encontro, e ela falava sem parar. 

a gente encontra algumas pessoas na rua, sempre promete que tem que marcar alguma coisa e nunca marca. isso não é conexão. quando tem que ser, incrivelmente as pessoas realmente se encontram. e aí a conexão faz sentido.

tá, voltando ao anoitecer que começou o texto.

- amor, tu não lembra. acho que tu não tava junto quando essa minha amiga começou a falar de um curso que ela está fazendo. tu ouviu isso?

ele não ouviu. nem aquela história, nem essa. o que estaria pensando agora. a gente fica tanto tempo pensando o que será que se passa na cabeça dos outros e esquece que seria muito mais simples ir ali e perguntar.

- amor?

nada, ainda. uma crise se aproximava. poderia ser qualquer coisa: uma secretária nova, um churrasco com amigos e um jogo de futebol. qual filme estaria passando ali?

- linda.

impressionante como as coisas que a gente julga sérias nessa vida tentam tirar a beleza de tudo.

- amor, me ouve.
- tá, eu ouço.

ele tinha se perdido sim. e sempre foi assim. ela caminhava pela casa, ele seguia os passos. não queria saber onde ia, queria apenas fitar seus pés. zelar pela maneira como ela andava. 

- amor, é verdade. eu não ouvi nada. é que eu tava olhando pro teu pé nessa hora. 

Um comentário:

  1. Se tiver um band-aid no pé darei o ganho de causa a ele. Apesar de achar que ele já ganhou no seu júri também.

    ResponderExcluir